Ajudar no preparo do lanche, arrumar a própria mochila ou guardar os brinquedos após brincar. Atitudes simples como essas, quando incentivadas desde cedo, fazem parte de um processo essencial no desenvolvimento das crianças: a construção da autonomia.
O que é autonomia infantil?
Autonomia não significa independência total. Segundo a psicopedagoga e educadora Rosely Sayão, uma das principais vozes brasileiras em educação, autonomia é a capacidade da criança de fazer escolhas, assumir pequenas responsabilidades e lidar com as consequências de seus atos, de forma adequada à sua idade. Isso não acontece de um dia para o outro – é um processo gradual, que deve ser cultivado no dia a dia, com o apoio dos adultos.
Por que a autonomia é importante?
Desenvolver a autonomia ajuda a criança a construir autoestima, senso de responsabilidade e segurança para enfrentar desafios. Além disso, contribui para o desenvolvimento cognitivo e emocional, como explica a neuropsicóloga Ana Lúcia Magalhães:
“Crianças que participam de tarefas cotidianas desenvolvem habilidades de planejamento, tomada de decisão e controle emocional. Isso reflete diretamente no comportamento escolar e nas relações sociais.”
A escola e a família têm papéis complementares nesse processo. Quando os dois ambientes promovem oportunidades para a criança agir por conta própria, ela se sente valorizada e capaz.
Como estimular a autonomia em casa?
É comum que, por pressa ou excesso de zelo, os adultos acabem fazendo tudo pela criança. Mas isso pode impedir que ela aprenda a fazer sozinha. Veja alguns exemplos concretos de como os pais podem promover a autonomia, respeitando cada faixa etária:
Crianças de 2 a 4 anos (Educação Infantil – 1ª fase)
- Guardar brinquedos após o uso.
- Escolher a roupa (entre duas opções apresentadas).
- Ajudar a colocar a mesa para o lanche.
Crianças de 5 a 7 anos (Educação Infantil – 2ª fase e início do Fundamental I)
- Vestir-se sozinha.
- Escovar os dentes com supervisão.
- Arrumar o material escolar com ajuda.
- Levar seu próprio prato à pia após as refeições.
Crianças de 8 a 10 anos (Fundamental I – anos finais)
- Organizar o horário de estudos com supervisão.
- Preparar lanches simples (como uma fruta ou um sanduíche).
- Ser responsável pelos deveres escolares.
Crianças de 11 a 14 anos (Fundamental II)
- Cuidar da organização do próprio quarto.
- Usar transporte escolar com responsabilidade.
- Gerenciar tarefas e prazos da escola com autonomia crescente.
Dicas práticas para os pais
- Dê tempo e espaço: É normal que, no início, a criança demore mais ou erre. O importante é permitir que ela tente.
- Seja claro nas instruções: Dê orientações simples e diretas. Exemplo: “Depois de brincar, guarde os blocos na caixa azul.”
- Evite recompensas o tempo todo: A motivação deve vir do sentimento de capacidade, e não apenas de prêmios.
- Elogie o esforço, não só o resultado: Valorize quando a criança tenta, mesmo que não consiga fazer tudo perfeitamente.
- Inclua nas decisões da casa: Perguntar “Você prefere arroz ou batata hoje?” é uma forma de dar voz e ensinar a escolher.
- Seja um exemplo: Mostre como você organiza suas tarefas e lida com responsabilidades.
Estimular a autonomia desde cedo é preparar a criança para ser um adulto mais confiante, responsável e consciente de seu papel no mundo. Ao confiar pequenas responsabilidades aos filhos, os pais não estão sobrecarregando – estão educando.
Como lembra a educadora Maria Montessori, cujos estudos influenciam a pedagogia até hoje:
“Qualquer ajuda desnecessária é um obstáculo ao desenvolvimento.”
A escola caminha junto com as famílias nessa missão. Vamos, juntos, permitir que as crianças façam por si aquilo que já são capazes de fazer – mesmo que pareça pouco aos nossos olhos, para elas é um passo enorme.